Arquivo Litúrgico

terça-feira, 9 de novembro de 2010

TORNAR-SE PADRE


Dom Eusébio Oscar Scheid

Tornar-Se Padre Um caminho que exige vocação, generosa resposta ao chamado divino, e muita capacidade de estudar e trabalhar. Por Dom Eusébio Oscar Scheid um dado curioso como hoje muitos falam da vocação sacerdotal, do que é ser padre, expressando opiniões sobre o assunto, embora o desconheçam quase completamente. À Medida que a nossa civilização vai perdendo o senso do sagrado, torna-se mais difícil compreender a pessoa de alguém como o padre, profundamente envolvido com o mistério divino, que implica uma consagração de toda a vida à glória de Deus e ao serviço dos irmãos. Assim se explica, por exemplo, que alguém possa deixar sua pátria e sua gente para ser missionário do outro lado do mundo. O Brasil se beneficiou grandemente desse ímpeto evangelizador, no começo de sua história, marcada pela presença pioneira de abnegados missionários, como jesuítas, os franciscanos e membros de outras ordens religiosas, que cristianizaram o nosso país. Como alguém se torna padre? Eu gostaria de abordar alguns pontos referenciais a esse respeito. Em primeiro lugar, ninguém escolhe tal caminho; é escolhido. Toda vocação é um chamado, ao qual se responde com convicção. Assim também acontece comigo. Evidentemente, Jesus, em pessoa, não veio me chamar, como o fez com os Apóstolos. A nós, Ele chama através de circunstâncias. Eu era coroinha desde muito cedo, tocava o sino e cuidava das coisas do redor do altar. Esse hábito de servir na casa do Pai cria, por parte da criança e do jovem, uma expectativa que propicia o acolhimento da vocação, que Deus poderá vir suscitar. Para responder ao chamado, o futuro padre conta, sobretudo, com o auxílio da graça de Deus, que irá configurá-lo à Pessoa do Cristo, como continuador de sua missão. Entretanto, a par da docilidade à ação divina, é preciso ter qualidades essenciais, que permitam o exercício do ministério sacerdotal. Essas qualidades abrangem: - dotes naturais, como saúde física e mental, inteligência desperta e viva – e qualidades morais, como integra de caráter, coragem e perseverança. A conjugação de todos esses requisitos será avaliada ao longo de um ano, que chamamos de “Propedêutico”, durante o qual o candidato é acompanhado e orientado na sua vocação, enquanto faz a transição da realidade em que vivia, para uma experiência toda voltada ao serviço na Igreja. Isto inclui o aprofundamento da própria espiritualidade, e a preparação para a vida comunitária e para os estudos acadêmicos. O seminário é, verdadeiramente, a sementeira onde se aprimora o crescimento dessa “planta” da vocação. O elemento que manifesta, desde o início, a autenticidade do chamado é a piedade do candidato: ter gosto pela oração, aprofundando sua fé no diálogo com Deus, de modo a estabelecer com Ele um relacionamento de intimidade. Esse amor às coisas de Deus deve se desenvolver num espírito de adesão filial á Igreja, ao Papa e aos bispos, como presença sacramental do próprio Cristo no mundo. A comunhão com Deus leva à comunhão com os irmãos. O seminarista precisa ter espírito comunitário. Saber viver em grupo, em comunidade, não é fácil, mas é valioso apoio, sobretudo neste mundo, marcado pelo individualismo e pela solidão. Os padres pertencentes a congregações religiosas vivem, normalmente em comunidades. Mas é bom que também os padres diocesanos, sempre que possível, residam juntos numa casa paroquial. É um ideal a ser atingido. É claro que o padre nunca está sozinho, porque serve ao povo. Esta é a outra dimensão comunitária de sua vida, que ele precisa amar com generosidade, para poder realizar num fecundo trabalho pastoral. O seminarista recebe formação nessa área, auxilia em diversas pastorais, para desenvolver espírito de pastor, guia, líder, que saiba conduzir seu povo pelos caminhos da fé, da moral e do são humanismo. O ideal seria que o candidato, o futuro padre, viesse de uma família bem estruturada que lhe tivessem fornecido toda segurança emocional e material necessária. Mas isso nem sempre acontece, principalmente, nos dias de hoje. Por isso, tal requisito não é considerado impedimento para um vocacionado, desde que ele reconheça as dificuldades que precisa superar, e encontre apoio numa formação bem orientada. Há candidatos, oriundos de famílias problemáticas, que se tornaram ótimos padres. O trabalho nas diversas Pastorais da Igreja pressupõe o preparo apurado dos candidatos ao sacerdócio. Na Pastoral Familiar, por exemplo, aprende-se como lidar com as famílias e seus problemas. A Pastoral Catequética requer capacidade de diálogo com crianças e jovens,e também com aqueles que orientam: pais e catequistas. A Pastoral Vocacional exige entusiasmo e acolhimento ao jovem, no discernimento dos rumos de sua vida. A Pastoral da Caridade Social exerce a dificílima missão de atendimento aos mais carentes. Na Pastoral da Saúde, o jovem seminarista aprende a conhecer a psicologia do enfermo, como falar e rezar com ele. A Pastoral da Criança atua na formação para uma paternidade responsável. A Pastoral da Terceira Idade propicia o intercâmbio entre o entusiasmo da juventude e o convívio é espiritualmente enriquecedor. Entretanto, nenhum trabalho poderia ser bem fundamentado, sem a necessária formação intelectual. O estudo específico para o sacerdócio exige, como requisito, o Ensino Médio, um ano de Propedêutico e mais sete anos de estudo acadêmicos. Estes estudos dividem-se em duas etapas, a começar pelo curso universitário de Filosofia, com duração de três anos. A filosofia é um estudo pouco conhecido hoje, mas imprescindível para nortear a visão do jovem sobre o homem, inserido no mundo e na história, sua linguagem e a lógica de pensamento, sua capacidade de transcender a realidade puramente material. A história da cultura filosófica, com as teorias dos mais diversos pensadores, é um retrato da pluralidade de contemporânea, com a qual o padre e o bispo têm que se defrontar, no exercício de sua missão. É estudo profundo, complexo e difícil. Sobre esta base, assenta-se a grande construção espiritual de quatro anos de estudos, na Faculdade de Teologia. Aqui no Rio de Janeiro, os seminaristas diocesanos cursavam a Faculdade de Teologia, ligada à PUC, no próprio campus a ele destinado, no Seminário São José. O curso está aberto, também, a religiosos e leigos que se disponham a enfrentar este difícil estudo. As disciplinas que compõe a Faculdade de Teologia abrangem as bases da nossa fé, sob os enfoques fundamental, sistemático e moral. Além disso, temos o estudo da Sagrada Escritura, do hebraico e do grego, da estrutura da igreja, a partir da sua fundação por Jesus Cristo, e da sua obra santificadora, na Liturgia e na Espiritualidade. Os seminaristas também têm a oportunidade de aprender o latim e de se aperfeiçoarem nas línguas modernas, entre as quais a nossa própria língua. Aprendem a arte de falar em público e de usar os meios de comunicação social. Estudam a psicologia humana, como base para ministrar o sacramento da confissão e para o aconselhamento a quem se encontra em dificuldade ou sem rumo na vida. Esta foi, apenas, uma breve abordagem do que significa a preparação para o sacerdócio. Ser padre exigem vocação, generosa resposta ao chamado divino, e muita capacidade de estudar e trabalhar. Antes de criticar ou apresentar pretensas soluções, baseadas no “achismo”, procuremos conhecer o processo para formação de um padre, para podermos avaliar melhor o significado e o objetivo da experiência preparatória pelo qual ele passou. Esse conhecimento suscitará, sem dúvida, o desejo de colaborar com ele, colocando-nos em sintonia com o se trabalho na Igreja, que reverte sempre em nosso benefício e no de toda a Comunidade. (Revista Paróquias & Casas Religiosas, ano 2, n. 10, janeiro/fevereiro 2008, p. 46-47)


Fonte: http://sacerdoteadaeternum.blogspot.com/2010/05/tonar-se-padre-um-caminho-que-exige.html

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