Arquivo Litúrgico

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MOTIVOS PARA AS RUBRICAS E ÁS NORMAS LITURGICAS

Quatro poderiam ser os motivos interiores para se obedecer às rubricas e outras normas litúrgicas: para simbolizar melhor o que ocorre na celebração, mostrando a identidade entre o sinal e o que ele realiza ou significa; para propiciar ambiente de sacralidade, favorecendo a piedade dos participantes; para transmitir a riqueza doutrinária da Igreja através de seus ritos seculares; e, enfim, para preservar a unidade substancial de cada rito, no caso o romano. 
A Santa Missa, por exemplo, não é um símbolo do sacrifício, senão o próprio tornado real e novamente presente. Entretanto, ainda que não seja símbolo, ela é, pelo menos, cercada de símbolos que existem para melhor refletir a realidade do que ocorre. Os símbolos não são essenciais, substanciais, todavia, por sua observância conserva-se o que eles representam. O sacrifício - no caso da Missa - e outras idéias próprias - nos demais atos litúrgicos extra Missam - precisam ser demonstrados aos nossos olhos, eis que, mesmo sendo reais, não são naturalmente visíveis; assim, revestindo-se de símbolos, captamos o que está por trás dos sinais. 
"Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo na sua relação com Deus."[i] 
Dessa forma, a Igreja estabelece as normas litúrgicas a serem observadas, pois, em sua sabedoria, considera que elas apresentam os símbolos que melhor refletem a realidade do que está ocorrendo na liturgia. Por exemplo, se ordena que se use casula, é por saber a Igreja que o que ela simboliza - a Cruz de Cristo -, é bastante catequético para lembrar os fiéis da realidade do sacrifício de Nosso Senhor, oferecido na Cruz do Calvário; se prescreve determinada oração ou gesto é por entender que nos auxiliam a penetrar no centro do mistério celebrado. 
"A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens."[ii] 
Deixar as normas litúrgicas de lado, além de grave desobediência à disciplina da Igreja, é apresentar-se insensível ao poder dos símbolos prescritos pela bi-milenar sabedoria da Esposa de Cristo. Tais símbolos não devem ser trocados por outros senão quando a autoridade da Santa Igreja o determinar, como ensinaremos a seguir. 
Convém lembrar a orientação da Santa Sé, através da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicada na Instrução Inaestimabile Donum: 
"Os fiéis tem direito a uma Liturgia verdadeira, o que significa a Liturgia desejada e estabelecida pela Igreja, a qual de fato, tem indicado adaptações onde podem ser feitas a pedido de requerimentos pastorais em diferentes lugares ou por diferentes grupos de pessoas. Excessivas experimentações, mudanças e certas criatividades, confundem os fiéis. O uso de textos não aprovados significa a perda da necessária conexão entre a lex orandi e a lex credendi."[iii] 
Sobre a lei litúrgica, nos diz o conceituado autor, Mons. Peter Elliott: 
"... o propósito desta lei é encorajar e promover o bem-estar espiritual, a participação e a unidade dos fiéis de Cristo. Ela também existe para a santificação e proteção do clero, que celebra os ritos da Igreja no coração de seu ministério aos outros."[iv] 
As normas do rito romano servem não para engessar o celebrante, mas para, quando as seguimos fielmente, conforme nos ordena o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Sacrosanctum Concilium, melhor apresentarmos ao povo de Deus que o que está ocorrendo por meio de cada cerimônia. Temos de seguir as rubricas! Por sua exterioridade, não nos afastam do interior: pelo contrário, como o homem é um ser no qual estão indissoluvelmente unidos alma e corpo, sua expressão de louvor e adoração ao Criador deve proceder do interior e do exterior também. 
Aos que argumentam que o culto prestado na Santa Missa deve ser mais interior do que exterior, o Papa Pio XII, em sua magistral Encíclica sobre a liturgia, mostra o engano de tal afirmação, sustentando que o exterior deve refletir o interior, sob pena de uma certa esquizofrenia espiritual: "A adoração prestada pela Igreja a Deus deve ser (...) tanto interior quanto exterior."[v] 
A observância das normas litúrgicas demonstra a obediência do sacerdote - sinal claro da humildade requerida de quem se apresenta diante de Deus para oferecer um sacrifício, no caso da Missa, ou celebrar Seu Nome, nos outros atos de culto -, seu sentimento de unidade para com a Igreja e de pertença a uma realidade espiritual maior do que abarcam suas simples opiniões, traduz uma piedade rica e bela, e torna, como afirmamos, mais visível aquilo que é invisível aos nossos olhos. 
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[i] Catecismo da Igreja Católica, 1146 
[ii] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, 23 
[iii] Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Instrução Inaestimabile Donum, Introdução 
[iv] ELLIOTT, Peter. Liturgical Question Box. San Francisco: Ignatius Press, 1998, p. 14 
[v] Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, 23 

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